Checklist de boas práticas para a cadeia de custódia

26 de outubro de 2025

As provas digitais se tornaram elementos centrais em inúmeros processos tanto na esfera jurídica quanto corporativa. De uma mensagem de WhatsApp a registros de acesso em um servidor, a capacidade de coletar, preservar e analisar essas evidências é o que diferencia o sucesso do fracasso em uma investigação. 


No entanto, a natureza frágil e mutável dos dados digitais representa um desafio único: como provar que uma evidência não foi alterada, contaminada ou falsificada? A resposta para essa pergunta é a cadeia de custódia.


Uma falha na cadeia de custódia pode ser tão prejudicial quanto não encontrar a prova. Mesmo que uma evidência seja decisiva para o caso, um erro simples no manuseio pode levar a sua invalidação completa em um tribunal, resultando na perda de um processo, em prejuízos financeiros bilionários ou em danos irreparáveis à reputação de uma empresa. 


Vamos entender melhor sobre o assunto e descobrir como implementar práticas inteligentes para a formatação da sua cadeia de custódia?


O que é a cadeia de custódia?


A cadeia de custódia é um registro cronológico e meticuloso de quem teve posse da evidência, quando, onde e por que. Ela estabelece uma linha ininterrupta de controle, desde o momento da coleta até a apresentação final em um tribunal ou em um relatório de investigação


O objetivo dessa cadeira é criar uma trilha de auditoria completa que comprove a integridade e a autenticidade da prova digital, garantindo que ela é exatamente a mesma que foi coletada na cena do incidente.


Para que uma prova digital seja considerada admissível e válida, ela deve atender a três requisitos fundamentais: integridade, autenticidade e admissibilidade legal. Entenda! 


Requisito


Descrição


Integridade


A evidência precisa estar inalterada. Qualquer modificação, intencional ou acidental, pode invalidá-la.


Autenticidade


A prova deve ser genuína, ou seja, ser realmente o que se presume ser. Um e-mail deve vir de fato do remetente declarado, um arquivo de log deve ser do servidor original, e assim por diante.


Admissibilidade legal


A evidência deve ter sido obtida seguindo procedimentos legais e técnicos que são reconhecidos e aceitos. Isso inclui mandados de busca, autorização judicial e o uso de métodos forenses padronizados.


A cadeia de custódia é o mecanismo que protege todos esses requisitos, blindando a prova contra qualquer tipo de contestação.


Checklist de boas práticas para a cadeia de custódia


Para garantir que a cadeia de custódia seja inquestionável, é preciso seguir um conjunto de procedimentos rigorosos em cada etapa do processo. O checklist detalhado  que montamos serve como um guia prático para profissionais de segurança, peritos e equipes jurídicas.


  • Identificação da evidência


A primeira etapa é a identificação da fonte de evidência, o que exige um planejamento cuidadoso. É fundamental saber exatamente onde procurar e quais dados precisam ser coletados.


Antes de iniciar a coleta, é essencial mapear todas as fontes potenciais de evidência. Em ambientes digitais, dados voláteis e não voláteis coexistem. Dados voláteis, como o conteúdo da memória RAM, conexões de rede ativas e processos em execução, são efêmeros e desaparecem assim que o sistema é desligado. 


Já dados não voláteis, como arquivos em um disco rígido ou registros de log em um servidor, persistem mesmo após o sistema ser desligado. 


Por isso, a regra é: colete as evidências voláteis primeiro, pois elas podem conter informações críticas sobre um ataque em andamento, como chaves de criptografia e processos maliciosos, que desapareceriam sem a priorização adequada.


Após identificar a evidência, a fonte deve ser imediatamente isolada para prevenir qualquer alteração acidental. Em um computador, isso pode significar desligá-lo ou desconectá-lo da rede. Em um servidor, pode ser necessário desabilitar o acesso remoto.

 

O isolamento é necessário para preservar o estado original dos dados no momento do incidente.


  • Coleta adequada e uso de ferramentas forenses


A coleta da evidência digital é um processo que difere drasticamente de uma simples cópia. Um erro aqui pode contaminar a prova permanentemente.


Imagens forenses (bit a bit)


Em vez de copiar arquivos e pastas, o perito forense deve criar uma imagem completa e exata da mídia de armazenamento, bit por bit. Essa imagem inclui não apenas os arquivos visíveis, mas também dados apagados e metadados ocultos, preservando a estrutura original do disco. 


O uso de write-blockers — dispositivos que bloqueiam qualquer tentativa de escrita no disco de origem — é fundamental para garantir que nenhum dado seja acidentalmente alterado durante o processo de imagem.


Geração e verificação de hash


Um passo inegociável na coleta é a geração do
valor hash. Uma função de hash, como o SHA-256, cria uma "impressão digital" única para cada conjunto de dados. O perito gera o hash da evidência original e o registra. 


Depois, gera o hash da imagem forense que foi criada. Se os dois valores corresponderem, há uma prova matemática irrefutável de que a cópia é idêntica à original.


Ferramentas certificadas


O uso de ferramentas de software e hardware de forense digital que são reconhecidas e validadas por órgãos internacionais, como o National Institute of Standards and Technology (NIST), é essencial. Isso garante que os procedimentos adotados estejam em conformidade com os padrões da indústria e sejam defensáveis em um ambiente jurídico.


  • Documentação detalhada


A documentação é a parte mais crítica, e muitas falhas na cadeia de custódia ocorrem aqui. Cada evidência deve ter seu próprio formulário detalhado. Este documento deve incluir:


  • Um número de identificação único para a evidência.


  • O local exato onde a evidência foi encontrada.


  • A data e o horário da coleta (com o fuso horário).


  • O nome e a assinatura de todos os indivíduos que manusearam a evidência.


  • Uma descrição completa da evidência (modelo do dispositivo, número de série).


  • Uma descrição do que foi feito com a evidência em cada etapa.


Fotografar e filmar o local e o processo de coleta da evidência adiciona uma camada extra de prova, fornecendo um contexto visual para a documentação escrita.


  • Preservação e armazenamento da evidência


A preservação adequada impede a degradação física e a manipulação dos dados.As mídias de armazenamento (HDDs, SSDs, pendrives) devem ser guardadas em locais seguros, como cofres ou armários com chave, com acesso restrito a poucas pessoas.


As evidências devem ser armazenadas em um ambiente com temperatura e umidade controladas para evitar danos físicos que possam corromper os dados.


Assim como no formulário inicial, qualquer acesso posterior à evidência deve ser registrado em um log. Isso inclui quem acessou, quando, por quanto tempo e o motivo.


  • Transporte seguro


Se a evidência precisar ser transportada, o processo deve ser tão seguro e documentado quanto a coleta.


  • Embalagem e lacres: a evidência deve ser embalada em recipientes seguros e selada com lacres numerados e à prova de violação. O número do lacre deve ser registrado no formulário de cadeia de custódia.


  • Registro de transferência: ao transferir a evidência de uma pessoa para outra, ambas as partes devem assinar o formulário de cadeia de custódia, indicando a data e a hora da transferência. Isso cria uma trilha de auditoria transparente.


  • Análise e acesso controlado


A análise forense da evidência deve ser conduzida de forma que não comprometa a sua integridade.A análise deve ser feita sempre na imagem forense (a cópia bit a bit), nunca no original. Isso protege a evidência primária de qualquer alteração acidental.


Além disso, o processo de análise deve ocorrer em um ambiente seguro e controlado, com restrições de acesso e ferramentas de software padronizadas.


  • Descarte da evidência


Após a conclusão da investigação e do processo judicial, a evidência deve ser descartada de forma segura e ética.O descarte deve seguir um procedimento formal e documentado, com a autorização das partes envolvidas.


Os dados devem ser sanitizados de forma segura, como por meio de wiping (sobrescrita de dados) ou desmagnetização, para garantir que não possam ser recuperados. A mídia física pode ser destruída por trituração, por exemplo.


Quais são os riscos e consequências de uma cadeia de custódia falha?


Falhas na cadeia de custódia levam a consequências devastadoras. Em um caso de fraude corporativa, por exemplo, se a empresa falha em documentar corretamente a coleta de e-mails incriminatórios, a defesa pode alegar que os arquivos foram alterados, e a prova pode ser invalidada. 


Isso resultaria na anulação do caso, na perda financeira e em um dano à reputação da empresa. Sem uma cadeia de custódia inquestionável, a melhor evidência do mundo pode se tornar inútil.,


A cadeia de custódia é um processo complexo, mas sua execução rigorosa é a diferença entre a vitória e a derrota. Em um mundo onde a informação é poder e a segurança digital é um imperativo, a capacidade de provar a integridade de uma evidência digital é fundamental. 



A disciplina de seguir um checklist detalhado não é um detalhe técnico, mas um cuidado que sustenta a credibilidade de uma investigação, garantindo que a justiça seja feita e que a empresa esteja protegida de riscos jurídicos e financeiros.


Sua empresa precisa de ajuda para estruturar a cadeia de custódia? A Techbiz oferece soluções completas e consultoria especializada para proteger a integridade de suas evidências. Entre em contato e saiba mais


Você pode gostar de

Mulheres em ambiente corporativo validando prova
25 de outubro de 2025
Entenda a validação de provas digitais em investigações. Conheça métodos como hash, cadeia de custódia, registros imutáveis e mais!
Por Techbiz Forense Digital 8 de julho de 2025
Crime financeiro e forense: entenda como a contabilidade forense, análise de dados e rastreamento de ativos impactam a investigação e o combate a fraudes transnacionais.
Por Grupo Techbiz 3 de julho de 2025
Saiba como a tecnologia transforma a coleta de evidências e a cooperação global na resolução de crimes.